CIELO AVANÇA, MAS IMPACTO DA PANDEMIA PRESSIONA RESULTADO
Por Valor Econômico | Fernanda Bompan e Lucas Hirata
Apesar de avançar nos objetivos de crescer no varejo e nos produtos de prazo, como a antecipação de recebíveis, a Cielo apresentou um resultado aquém do esperado por analistas para o primeiro trimestre. Com isso, as ações da companhia de pagamentos caíram 3,29% ontem, para R$ 3,53, e ficaram entre as maiores baixas do Ibovespa.
O presidente da Cielo, Paulo Rogério Caffarelli, afirmou que a companhia está no “caminho certo”, mas a piora no cenário da covid-19 atrapalhou e afetou o trimestre inteiro. “A gente apanhou duplamente do recrudescimento da pandemia”, disse a jornalistas.
De acordo com ele, já se notava uma piora no varejo desde em outubro, mas o impacto foi sentido mais duramente em março, com novas medidas de isolamento para conter a disseminação da doença. de casos. “Desde outubro, [volume capturado] só fez cair”, afirmou.
A companhia registrou lucro líquido recorrente de R$ 135,8 milhões no primeiro trimestre deste ano, resultado 18,6% menor que o apurado no mesmo período de 2020 e 54,5% inferior ao do quarto trimestre. Esse valor exclui ganhos de R$ 105,5 milhões com a venda da Orizon, com a cessão e atualização monetária da plataforma Elo com a reversão de provisões com novos projetos e reestruturações. Uma mudança nas regras do Imposto sobre Serviços (ISS) teve impacto negativo de R$ 30,1 milhões no número final. O lucro líquido total foi de R$ 241,3 milhões, alta de 44,7% em um ano.
A decepção dos analistas foi motivada “principalmente por tendências de receita mais fracas, com crescimento de volume total de pagamentos (TPV) abaixo das expectativas, parcialmente compensado por custos e despesas menores”, disseram analistas do Goldman Sachs, banco que recomenda a venda das ações.
Para analistas do Credit Suisse, a empresa reportou números abaixo do esperado tanto para Cielo Brasil (adquirência) como para Cateno (gestão de contas de pagamento). O banco suíço reiterou sua “visão cautelosa para as ações de Cielo por enquanto.”
Apesar disso, a credenciadora conseguiu aumentar a base de clientes de varejo em 1% na comparação com o trimestre anterior e em 8,8% frente aos três primeiros meses de 2020. É intenção da Cielo avançar nesse segmento.
O varejo e o segmento de empreendedores representaram 35,4% do volume capturado no primeiro trimestre (ante 35,1% no quarto trimestre). Caffarelli reiterou que a busca da empresa é para que a participação do varejo fique equilibrada com a de grandes contas. Com esse objetivo, foram contratados mais 500 funcionários para a força comercial.
A ampliação da equipe tende a diminuir também a dependência das vendas feitas por meio dos bancos controladores (Bradesco e Banco do Brasil) ou parceiros. Nesta semana, a Caixa anunciou acordo com a americana Fiserv para que esta opere com exclusividade as operações de adquirência no balcão do banco pelos próximos 20 anos.
O vice-presidente financeiro da Cielo, Gustavo Souza, minimizou o impacto da parceria, lembrando que credenciadora representa mais de 50% do volume de adquirência de clientes com domicílio bancário na Caixa. Ele destacou que não haverá uma migração automática desses lojistas para a Fiserv, e eles continuarão sendo atendidos pela Cielo.
Caffarelli afirmou que a pandemia, por outro lado, acelerou fortemente as soluções de digitais, como links de pagamentos, QR Code e NFC (transações por aproximação), que agora já representam 20% do volume. Há um ano, essas tecnologias tinham participação de 15%.
O executivo também disse esperar para “breve” o lançamento do serviço de pagamentos entre pessoas via WhatsApp, que será processado pela Cielo.
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