Por O Estado de S. Paulo | Isaac de Oliveira
Desde que o Pix foi anunciado, criou-se uma desconfiança de que o mercado de adquirência, conhecido pelas “maquininhas”, está ameaçado com a chegada do novo sistema de pagamento e transferência instantâneos do Banco Central. De fato, houve uma pressão sobre essas empresas, por isso chamam atenção algumas operações recentes neste segmento, como a aquisição de parte da Granito pelo Banco Inter e o interesse do Santander Brasil (SANB11) em abrir capital da GetNet.
Esses movimentos seguem direções opostas. O Inter, por exemplo, comprou 45% da participação da Granito, que pertence ao BMG, por R$ 90 milhões. Segundo o banco, há uma grande demanda pela oferta de serviços de adquirência pelos mais de 600 mil clientes com conta jurídic – em geral, pequenas e médias empresas.
Na visão de Maurício Rahmani, sócio e analista da Reach Capital, as maquininhas funcionam como um “cavalo de Tróia” porque através delas as instituições podem oferecer uma gama de serviços e produtos.
“Nesse sentido, o Inter estava para trás. Ele começou com a conta e agora vem com a maquininha. O PagSeguro começou com a maquininha e depois foi para a conta. A mesma coisa com a Stone”, observa Rahmani.
Leo Monteiro, analista da Ativa Investimentos, explica que o Pix pressionou o mercado de adquirência nas operações de débito, mas lembra que as receitas de crédito não devem ser afetadas inicialmente. Segundo o analista, é no segmento de crédito que os bancos tentam expandir suas carteiras, sobretudo os bancos digitais.
“Ter um player de adquirência dentro da sua estrutura acionária é interessante porque o banco consegue uma redução do custo de aquisição do cliente (CAC)”, diz Monteiro.
Além disso, o analista da Ativa lembra que o Inter tem planos de tornar seu aplicativo em uma super plataforma, com uma gama de produtos e serviços para correntistas e não correntistas. “É uma verticalização de produtos e serviços que o banco quer fazer, uma forma de explorar os clientes do mercado de adquirência e de gerar valor para o próprio aplicativo”, afirma Monteiro.
O Inter reconhece o impacto do Pix no mercado, principalmente pelo fato de muitas empresas substiruírem as maquininhas por meios de pagamentos mais baratos e atrativos, ou agregar novas funções a elas. “Tudo é muito novo e o mercado ainda necessita de melhores meios de pagamento. Toda tecnologia vem para somar. Só vai existir ameaça se o setor não acompanhar essa evolução, mas acreditamos que ainda há espaço para todos”, diz o banco em comunicado.
Por que o Santander quer abandonar maquininhas?
No último dia 16, o Santander Brasil comunicou ao mercado sua intenção de fazer um spin-off (separação) de seu negócio de maquininhas, a GetNet. Com isso, seria realizada uma cisão das companhias e a GetNet passaria a ser listada no Brasil e nos Estados Unidos. Os acionistas do banco se tornariam sócios diretos da empresa de adquirência, que passaria a ser uma subsidiária do controlador, no caso, o banco Santander na Espanha.
A operação segue um fluxo contrário ao do Inter, uma vez que o banco busca retirar a GetNet da sua estrutura acionária. Para Monteiro, o movimento é positivo. “O Santander Brasil vai se concentrar na parte bancária e se livrar dessa parte de adquirência, pressionada pelo Pix, e ainda assim explorar a base de clientes que a GetNet tem”, avalia o analista da Ativa.
Diversos bancos projetam que a saída da Getnet deve destravar valor do Santander, que passaria a ter seus negócios “mais claros” e as ações, poderiam até ganhar algum peso. “É positivo para o acionista porque a ação tende a subir. Fica mais claro o valor de cada um dos negócios separadamente”, avalia Rahmani.
Umas das vantagens do spin-off seria o destravamento de valor do banco no Brasil. O banco Safra, por exemplo, vê a separação da GetNet com um potencial para desbloquear R$ 8 bilhões ao banco no Brasil e adicionar 6% ao seu valor de mercado.
Também há um saldo positivo para a GetNet. Um levantamento feito pelo Broadcast mostra que a companhia pode chegar à bolsa com R$ 18 bilhões de valor de mercado, superando a concorrente Cielo (), que vale cerca de R$ 10 bilhões. Além disso, pensando no plano de internacionalização, analistas veem como mais estratégico a companhia estar sob o comando do controlador, na Espanha.
Procurado, o Santander respondeu que vai se ater ao comunicado enviado ao mercado.
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