Valor Econômico | Por Estevão Taiar
O Pix completa no domingo seis meses de funcionamento pleno, com uma adesão que surpreendeu fortemente o Banco Central (BC), instituições financeiras e especialistas que acompanham o setor. Em abril, o sistema já tinha 230,6 milhões de chaves cadastradas e 1,5 bilhão de transações realizadas, refletindo a ampla aceitação do sistema, especialmente por pessoas físicas que rapidamente vêm substituindo TEDs e DOCs.
O temor fraudes que precedeu a estreia do Pix não se confirmou. Golpes existem, mas usam a chamada “engenharia social”, ou seja, acontecem fora do sistema e não em brechas na tecnologia.
“No início, a gente imaginava que teria 20 milhões de chaves, talvez 40 milhões”, afirmou ontem o diretor de fiscalização do BC, Paulo Souza, em evento promovido pelo Sistema OCB (Organização das Cooperativas do Brasil). Desde meados de novembro, houve mais 1,5 bilhão de transações feitas por meio de 752 instituições financeiras e de pagamentos. Daqui para a frente, a tendência continua sendo de crescimento rápido, impulsionado pela entrada em vigor de novas funcionalidades.
“Os primeiros seis meses de funcionamento demonstram o sucesso e aceitação do Pix”, afirmou também o presidente da Febraban, Isaac Sidney.
No mês passado, o tíquete médio das transferências ficou em cerca de R$ 644, conforme dados do BC. As pessoas com idade entre 20 e 29 anos e 30 e 39 anos são os principais usuários, com cada um desses grupos respondendo por pouco mais de 30% das operações.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou recentemente que, “mesmo entre a população de idade mais avançada”, se vê um crescimento “muito grande” do Pix. Ainda assim, os usuários acima de 60 anos respondem por apenas 4% das operações. Na distribuição regional, quase metade das transações são realizadas no Sudeste (48,7%), enquanto o Norte (7,9%) vem no fim da fila.
Em um primeiro momento, como já era esperado pelo BC, o uso do Pix ganhou força principalmente entre as pessoas físicas. Hoje, dos 87,3 milhões de usuários, 81,9 milhões são pessoas físicas e 5,4 milhões pessoas jurídicas. Isso porque a adoção do sistema por empresas exige uma estrutura maior. Mas nas últimas semanas as transações no varejo já têm crescido “a taxas mais elevadas” do que no caso de pessoas físicas, disse nesta semana o chefe do Departamento de Competição e Estrutura do Mercado Financeiro da autoridade monetária, Ângelo Duarte.
Mesmo com a expansão mais lenta no início, o balanço do Pix até aqui é “positivo”, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Em nota enviada ao Valor, a instituição afirma que “as facilidades prometidas” pelo BC “se tornaram realidade”.
A expansão entre as pessoas jurídicas deve ganhar força com ferramentas ainda previstas para entrar em vigor, como o Pix Garantido – pagamento programado, que permitirá, por exemplo, compras parceladas e operações de crédito – e o débito automático.
Nesta sexta-feira, entra em vigor por exemplo o Pix Cobrança – ferramenta que permite a cobrança em datas futuras por meio da geração de QR Code.
“Aos poucos novas funcionalidades vão sendo construídas e mais e mais estabelecimentos começam a aceitar o Pix”, disse Leandro Vilarinho Borges, sócio do Velloza Advogados, para quem o saldo do primeiro semestre é “extremamente positivo”.
De acordo com a titular da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça, Juliana Domingues, a principal reclamação até aqui diz respeito aos golpes aplicados por meio de WhatsApp. Nesse caso, depois de clonar uma conta do aplicativo de mensagens, o golpista pede a outras pessoas a transferência de valores via Pix.
Para alertar a respeito desses riscos, o BC realizou em abril uma campanha dizendo que “o Pix é novo, mas os golpes são antigos”, com a realização de lives e postagens em suas redes sociais.
“As reclamações não têm grande volume”, disse a titular da Senador destacando que o sistema já conta com “ampla adesão” e vem ajudando a modernizar “um mercado muito concentrado”.
O BC também vem trabalhando em um sistema que permitirá o estorno mais rápido de transações em que houver comprovação de fraude ou falha no sistema das instituições. A funcionalidade está prevista para começar a funcionar no terceiro trimestre.
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